A Pesquisa
Na minha investigação plástica, o corpo é visto como paisagem. Construída de fragmentos do corpo, uma natureza em obra, que fala da vida e do homem; dos seus sentimentos, das emoções, dos prazeres e sua função política ambiental. Construída do interior e exterior do corpo e manifestada: por tecidos, rendas, imagens digitais, desenhos, pinturas incomuns, objetos, fotografias e instalações.
Uma paisagem repensada de forma diferente das tradicionais, que se compunham de janelas da natureza limitadas por molduras. Esta, ressalta o valor do corpo e o valor da paisagem, sendo vista como conseqüência um do outro. Acredito que somos paisagens, mas também somos parte desta grande paisagem.
Esta percepção, inicialmente oculta, aos poucos foi percebida e cada vez está sendo mais ampliada.
Procuro criar uma nova relação elementos da natureza/corpo; baseada nas experiências vividas, no que observo, nas coisas que me circundam. Crio uma paisagem diferente, uma nova percepção espacial. Como escreveu Anne Cauquelin em A Invenção da Paisagem, p.15, pode ser frágil e resistente. Frágil por que é de mentira; e resistente porque existe e nos nutre, regula reflexos e sentimentos.
Para entender essa relação é necessário observar e lançar olhares atentos, para penetrar na metáfora, analogia e dualismo.
O pensamento de Louise de Bourgeois é elucidativo, para meu trabalho, pois traz apartes conceituais que pontuam relações do corpo com a paisagem:
“Nosso próprio corpo pode ser considerado, de um ponto de vista topográfico, um terreno com montes e vales, cavernas e buracos. Assim, parece-me evidente que nosso corpo é uma figuração que aparece na mãe terra. É daí que vêm estas paisagens. (...) A última paisagem que fiz foi uma paisagem de tetas. Bem, imagine uma cadela ou uma vaca; se a puser com as costas voltadas para baixo, terá uma paisagem muito interessante, emocionante, viva e maleável. Tudo se resume a isso. Se você segura uma criança contra seu peito nu, não é o fim da suavidade, é o início da suavidade, é a própria vida.” BERNADAC, 2000, p. 126.
Inicialmente, tenho me dedicado à mama, na construção de paisagem do seu interior, fotografando o resultado da pesquisa científica do seio, apropriando-me do grafismo deixado pela mamografia, estabelecendo metaforicamente relações com elementos da natureza e com paisagens oníricas.
O corpo da mulher, como o seio, sempre teve, para os artistas, uma relação com os formatos da natureza, desde a antiguidade clássica. Na poesia, terra e jardim referiam-se ao corpo feminino; colinas e montanhas, aos seios e pequenos vales entre os seios. Cristóvão Colombo compara a terra a um globo mamário, numa parte do qual, a melhor, estava um “mamilo paradisíaco”, o Novo Mundo.
Este trabalho me oportuniza dar uma visão feminina particular da mama seio, da forma como o percebo e observo, como é representado, principalmente para o mundo ocidental, e o quanto precisa de cuidado. Ao mesmo tempo, tento quebrar preconceitos, mostrar como ele é na realidade, que pertence à mulher e só ela deverá determinar seus limites, conforme a sua forma de pensar e de ser.